Histórias e Poesias


Contextualizando



  

     Fim de Semana em Paquetá
  Esquece por momentos teus cuidados
  E passa o domingo em Paquetá
  Aonde vão casais de namorados
  Buscar a paz que a natureza dá
  O povo invade a barca e lentamente
  A velha barca deixa o velho cais
  Fim de semana que transforma a gente
  Em bando alegre de colegiais
  Em Paquetá se a lua cheia
  Faz rendas de luz por sobre o mar
  A alma da gente se incendeia
                     E há ternuras sobre a areia
                     E romances ao luar
                     E quando rompe a madrugada,
                     Da mais feiticeira das manhãs
                     Agarradinhos descuidados
                     Ainda dormem os namorados
                     Sob um céu de Flamboyants.

  João de Barros e Alberto Ribeiro, 1947.
                                                               
                                        
Conhecendo este inestimável bairro-ilha

Trata-se de um território com demarcações geográficas bem precisas. A ilha de Paquetá é um bairro da cidade do Rio de Janeiro, situada ao norte da Baía de Guanabara. Encontra-se a 15 Km do centro da cidade, tendo como único meio de acesso oficial[1] o transporte de barcas que têm horários restritos  e um tempo de viagem de pelo menos 70 minutos até a Praça XV. Possui aproximadamente 4.000 habitantes distribuídos numa área de mais ou menos 1,2 Km2 de extensão[2]. Em época de veraneio, esse número chega a aumentar até cinco vezes. A população da ilha tem como principal atividade econômica a prestação de serviços, seja no comércio local, nos serviços públicos existentes, nas casas dos moradores veranistas ou ainda em estabelecimentos voltados para o turismo. Administrativamente, Paquetá está submetida à XXI Região Administrativa, subordinada à subprefeitura do Centro. Em termos distritais de saúde, Paquetá está ligada à Coordenação de Área Programática 1.0 (CAP 1).
Suas características geográficas e culturais a transformam num lugar muito peculiar, onde não há carros, nem ruas asfaltadas, e os principais meios de transporte são a bicicleta, utilizada maciçamente pelos moradores, e a charrete, mais utilizada pelos turistas. Há também uma frota de triciclos chamados “Ecotáxis”[3], que podem carregar duas pessoas além do motorista, e o trenzinho que, geralmente, transporta passageiros nos horários próximos de saída e chegada das barcas. Este último também promove passeios turísticos. 
Ainda hoje, a ilha é muito visitada por turistas brasileiros e estrangeiros e também por muitos moradores de outros bairros da cidade, apesar de não mais guardar a natureza, a beleza e a ternura descritas pelos poetas João de Barros e Alberto Ribeiro no poema de introdução deste texto.

         Um pouco de história

          Dos índios Tamoios, passando pelos invasores franceses e portugueses, até os moradores atuais
Poética, risonha, aprazível [...] a beleza proverbial, salubridade e índole pacífica de seus habitantes fazem dela deliciosa vivenda para aqueles que procuram a saúde e a tranquilidade. (SOUZA, 1821, p. 115, apud LEITÃO, 2003, p. 43).


A história de Paquetá se inicia com os franceses no século XVI. O primeiro registro da ilha na história foi feito pelo cosmógrafo francês André Thevet em 1555, quando participava da expedição do também francês Villegaignon, que, por sua vez, tinha a missão de fundar a França Antártica. Quando estes lá chegaram, encontraram os índios Tamoios, que seriam seus aliados na luta pelo território contra Portugal. Em 1565, foram vencidos e expulsos pelos portugueses. Depois da vitória, Estácio de Sá, representando os colonizadores, dividiu a ilha em duas sesmarias. Primeiramente, Paquetá ficou ligada à freguesia de Magé, por questões de natureza eclesiástica. Até que em 1833, desmembrada de Magé, passou a fazer parte da corte. Muitas famílias da corte frequentavam Paquetá, inclusive a Real.

Até bem pouco tempo, a casa em que a Família Real se instalava quando ia à ilha podia ser visitada pelo público. Lá, funcionava a biblioteca pública municipal. Numa visita a biblioteca, podia-se ter acesso não só a dados da história da ilha, como também tocar nas carruagens usadas pela realeza ou mesmo entrar nos cômodos da casa, batizada de “Solar del Rei”[4]. Conta-se que as águas do poço de São Roque curaram uma ferida antiga na perna de D. João VI.  Até hoje, a festa desse, que se tornou o santo padroeiro da ilha, é aguardada ansiosamente e frequentada pela maioria dos moradores e por milhares de visitantes. A autora Wilma Leitão[5] retrata bem esse espírito da ilha na seguinte passagem:

 A Ilha, contudo, já desde o período imperial, era conhecido lugar de descanso e não apenas para os que fugiam da canícula do verão do Rio de Janeiro, mas também os que, no mês de agosto, participavam das festividades dedicadas a São Roque. (LEITÃO, 2003, p.42).
                                
No referido período e no posterior, a ilha segue frequentada ou passa a ser lugar de morada para ilustres e elitizados personagens da corte e, mais tarde, da sede da república. Dentre estes podemos citar, por exemplo, Mendes de Moraes - antigo prefeito da cidade. Para que a elite carioca admiradora da ilha usufruísse de conforto e bem-estar durante sua permanência no local, muitos benefícios em termos de serviços e lazer foram levados para lá. Assim, Paquetá entrou definitivamente para a história do Rio de Janeiro como destino de veraneio e de turismo da cidade. Aos poucos, água, esgoto, luz, escolas, cinema, teatro, hotéis foram se juntando à beleza natural da ilha. Associada ao seu cenário bucólico, a ilha recebeu uma ajudinha do escritor Joaquim Manoel de Macedo, que através de sua principal obra, o romance intitulado “A Moreninha”[6], imortalizou o bairro. Mais tarde, o nome do romance se transformou no nome da praia mais famosa da ilha, virou filme, peça de teatro e, nos anos 70, novela.    




                    Paquetá hoje
 Tamanha admiração e respeito ao funcionamento peculiar do lugar foi perdendo espaço a partir da década de 60. Todo o glamour que aí se encontrava foi sendo limado aos poucos, “seguindo o empobrecimento generalizado do país” (LEITÃO, 2003, p.57), que se traduziu em descaso do poder público e em ausência de garantia dos serviços de qualidade que ali estavam. Novos valores de consumo levaram a então elite carioca a buscar novos locais de lazer. Portanto, nos anos 60 e 70, a ilha passa a ser destino de férias da classe média e, a partir dos anos 80, os recantos bucólicos do tão valorizado balneário passam a sofrer ainda mais com a restrita atenção do poder público. Aos poucos, os pontos turísticos, como a árvore Maria Gorda, o Cemitério dos Passarinhos, a Pedra dos Namorados, vão recebendo novos admiradores. Dessa forma, seu público frequentador e os novos moradores vão se transformando em retirantes nordestinos e população de bairros do Rio de classe menos favorecida economicamente.
Agora, o bairro se caracteriza por uma certa diversidade social e cultural. Além dos recém-chegados, mantém-se um grupo de moradores antigos que descende de famílias contemporâneas da antiga elite frequentadora/moradora do bairro, que defende a preservação dos hábitos e estilo de vida, antigamente praticados ali, tentando com isso resguardar seu cenário bucólico e sua vocação turística, através de práticas e movimentos que façam ver sua importância histórica, cultural e ambiental. Infelizmente, observa-se neste novo cenário a invasão de áreas de preservação ambiental, a construção em encostas, a redução da qualidade na prestação dos serviços, a chegada das drogas, etc. 
Durante anos, Paquetá foi o destino tranquilo e saudável, recomendado por muitos, inclusive por médicos, como lugar de busca de saúde e descanso. A citação com a qual iniciamos este tópico o comprova. Talvez seja por conta da fama e da opinião de seus frequentadores e moradores ilustres que Paquetá tenha sustentado durante tantos anos a imagem de vida saudável, que hoje já não conseguimos presenciar, enquanto pessoas comuns e enquanto profissionais de saúde.  Pode-se perceber que essas novas características nos apontam um novo cenário. É com ele que lidamos, enquanto serviço de saúde, em relação à vida, ao adoecimento e à saúde dos moradores da ilha. E é dentro desse cenário e com o nosso trabalho que queremos afirmar uma vida potente e com qualidade, tanto para os moradores, quanto para os profissionais de saúde. Para tanto, oferecemos práticas diferenciadas de atenção à saúde, como por exemplo: caminhadas, teatro, sessões de cinema, oficinas, etc.[7]. Entendemos também que não é possível promover saúde sem a participação de outros campos de saberes e práticas.
O campo da saúde é um campo intersetorial, atravessado por diferentes áreas, e diz respeito a todos nós: governo, profissionais de saúde e áreas diversas (arte, cultura, esportes, lazer, saneamento, trabalho, etc.), pesquisadores, moradores, visitantes, crianças, jovens, adultos...        
Sendo assim, traga sua opinião e sugestões. Convidamos você para fazer parte desta história. Vamos escrevê-la juntos. Participe!


[1]  Sabemos que há um meio de transporte extraoficial que liga Paquetá a Itaoca – bairro da cidade de São Gonçalo – também em horários restritos. Na verdade, Paquetá encontra-se, em termos de quilometragem, mais próxima de Itaoca do que da Praça XV, o que faz com que esse transporte seja muito usado por moradores de São Gonçalo e Niterói que trabalham na ilha.
[2]   Ver mapa da ilha neste site.
[3]  Como o próprio nome sugere, presta serviços de transporte à população, porém sem deixar os rastros maléficos de poluição, como acontece com os táxis motorizados que operam nos outros bairros da cidade. Na ilha, existem iniciativas individuais de desenvolvimento desse tipo de atividade, assim como empresários que empregam pessoas - geralmente jovens - para fazer o transporte da população. Os únicos veículos motorizados autorizados a circularem no bairro são o trenzinho, os do corpo de bombeiros, a ambulância, os veículos de fornecimento/prestação de serviços (telefonia, luz, gás, água, lixo) e caminhões de entrega de mercadoria e de mudanças. Estes últimos têm acesso à ilha através de uma balsa. Há algum tempo, a polícia utiliza veículos movidos a eletricidade.
[4]  Atualmente o “Solar”, como é conhecido, encontra-se não só fechado para visitantes, como absolutamente abandonado, com portões cerrados, mato crescido e esquecido pelo poder público.
[5]  Muitos dados citados aqui têm múltiplas fontes. Consideramos que são uma mistura de constatação por observação, pesquisa e visitação de nossa parte, assim como de relatos de antigos moradores e também de informações retiradas tanto do site www.ilhadepaqueta.com.br, quanto do trabalho de Wilma Marques Leitão, que pesquisou e estudou exaustivamente a história e as características do bairro para elaboração de sua tese de doutorado.
[6]   O escritor não cita o nome da ilha de Paquetá em seu romance, que teve, na época – a história foi escrita e se passa em 1844 – grande repercussão. Porém, parece que não foi necessário, pois a associação dos cenários ficcionais descritos no romance aos cenários da ilha foi feita definitivamente pelos leitores da época e ainda é feita pelos atuais.
[7]   Verificar registros das atividades com fotos e vídeos neste site. 
______________________________________


             ILHA DE PAQUETÁ. Acesso em 25 set. 2011. Disponível em <www.ilhadepaqueta.com.br>.

            LEITÃO, W. M. Ilha de Paquetá: cotidiano e história social de um bairro carioca. Tese de doutorado, UFRJ, IFCS, Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, 2003.



            Sobre a autora:

            Simara Barreto Dias é psicóloga, especialista em saúde mental e atenção psicossocial, trabalha há treze anos no ambulatório da saúde mental da UISMAV e é parceira da ESF – Paquetá. Seu texto  é baseado em sua monografia: A aposta no território: experimentando a clínica e outras práticas num ambulatório-laboratório. apresentada à ENSP/FIOCRUZ – Escola Nacional de Saúde Pública / Fundação Oswaldo Cruz em 2011 para obtenção do título de especialista em saúde mental e atenção psicossocial .






"Meus Netos

Sempre achei que ser mãe era  suprema felicidade, mas vocês nem podem acreditar que coisa gostosa é ser avó ou vó como sou chamada.



21/12/1985 - Fafa já chegou afirmando
                   Que era linda e poderosa
                   Me derreti de emoção 
                   Fiquei danada de prosa.


23/06/1986 - João Lucas foi o doce 

                   Mais doce que a vida deu
                   E eu senti no meu peito
                   Que o Joãozinho era meu.



30/12/1988 - Vinicius foi o terceiro

                   Não teve pressa e nem manha
                   Chegou todo peraltinho deixando meu coração
                   Em festa e acelerado pois já sei, serei madrinha
                   Do meu netinho danado.


03/02/1989 - Filipinho o gorduchinho

                   Chegou meio de repente
                   Era lindo o molequinho, muito brabo e impertinente
                   Mais deixou meu coração inchado de tão contente.


E eles foram à alegria que enchia o meu coração, dia e noite, noite e dia.

23/11/1994 - Tudo estava caminhado 
                   Com grande felicidade
                   Quando igualzinha a mãe dela
                   Atrasada e bonitinha, chegou a minha loirinha
                   A boneca Daniela. 

Agora ao todo são cinco, cinco netos pra eu amar...Virgem Maria me ajude, me ajude a caminhar.

                   Eu quero amar sem medidas
                   Com um amor que eu aguente
                   Pois cada um vai ser gente, gente bem diferente.
                   Eu não quero ser bandida nesse modo de amar
                   O que quero é ser rainha
                   Dos cinco netos que um dia
                   Deus botou na minha mão e enterrou com firmeza
                   Dentro do meu coração."


De autoria de Sarah Ferreira Soares, 72 anos,moradora da Ilha à 23 anos e
participante dos grupos do ESF. 
Escreveu essa poesia em homenagem aos netos.






26/07/2012
 Dia da Avó.

Ser Avó

Ser avó é sentir felicidade
É conhecer um amor doce, profundo,
É viver de carinho e ansiedade,
É resumir nos netos o seu mundo!

Ser avó é voltar a ser criança,
É fazer tudo pelo neto amado...
É povoar a vida de esperança,
É reviver todinho o seu passado.

Ser mãe é dar o coração, eu creio,
Mas ser avó... que sonho abençoado!!!
É viver de ilusão, num doce enleio,
É viver no neto o amor ao filho amado!


(Vó Heloísa Helena e João miguel seu netinho.)

Parabéns a todas as Vovós!!!

11 comentários:

  1. Parabéns a equipe presente na segunda feira na praça. Foi maravilhoso.
    Tem que ter mais vezes.

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  2. Foi muito bom o evento de poesia na praça.......

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Parabéns à equipe e à psicóloga pelo belo texto e pelo belo trabalho.

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    1. Simara barreto e equipe ESF15 de julho de 2012 às 13:41

      Agradecemos o carinho.

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  5. Ótimo texto, aprendi muito. Parabéns a equipe e a psicologa.

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    1. Que bom que contribuiu pra conhecer a história da ilha. Fico feliz. Bj grande e obrigada pelo carinho.

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  6. Obrigada Simara pelo carinho e confiança que você nos proporciona.

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    1. Adoro trabalhar em Paquetá! É um prazer estar junto de pessoas tão especiais. Obrigada.

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  7. Parabéns pela pessoa e pela profissional que se construiu nesse lugar e na vida. Gd bj.

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    1. Obrigada pelo carinho, Andrea! Grande beijo pra vc também.

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